Em
2018, a Netflix lançou a série animada O Príncipe Dragão. Criada por Aaron
Ehasz produzida por Giancarlo Volpe, os mesmos idealizadores de Avatar: a Lenda
de Aang. A história de O Príncipe Dragão se passa na terra de Xadia, uma terra
fictícia que remete ao mundo medieval de Senhor dos Anéis, onde humanos e elfos
viviam harmoniosamente até que um mago humano se rendeu a magia sombria. A fim
de se protegerem, os elfos dividiram Xadia em dois reinos, separando humanos e
seres mágicos, cuja fronteira era protegida pelo rei dragão. Essa é a premissa
dessa nova aventura que tem tudo para ser uma bela série animada como foi
Avatar.
O
Príncipe Dragão tem uma gama de personagens que precisam ser mencionados,
contudo, neste artigo, quero destacar a personagem AMAYA. Por que precisamos falar de Amaya?
Amaya
é tia dos príncipes Callum e Ezran, personagens principais para o desenrolar da
história, e é no primeiro encontro desses três personagens que temos a surpresa
e a compreensão da importância da personagem tanto para o desenvolvimento da
história quanto para a reflexão daqueles que estão assistindo a série. Ao se
dirigir para falar com os seus sobrinhos percebemos que Amaya é surda e fala
com eles por meio da língua de sinais americana (ASL).
Confesso que quando
assisti essa cena fiquei surpresa, pois não esperava que a personagem fosse tão
rica. Julguei que seria mais uma coadjuvante para dar continuidade no enredo.
Fiquei feliz, por estar enganada.
Amaya é uma personagem que
traz para a série uma representatividade feminina sem seguir padrões
considerados, social e culturalmente, de feminilidade (como mencionei no artigo
sobre o Shun), pois “apresenta características culturalmente
atribuídas a personagens masculinas, como força, inteligência e coragem” (FILHA
e NASCIMENTO, 2018, p.232). Ela é uma mulher perspicaz, ocupa uma posição
respeitável no campo de batalha, pois é general do exercito do reino de Katolis
e tem como missão proteger a fronteira do lado dos humanos. Contudo, “sem
cair, porém, em um binarismo, a personagem... não apresenta características
“masculinas” em detrimento das “femininas”;... mas um conjunto de
características que se complementam, passeando entre aspectos que se aproximam
e se distanciam do já citado padrão ou tipo de feminilidade” (FILHA e
NASCIMENTO, 2018, p.232).
A personagem também
traz uma representação ainda não vista em séries animadas sobre o público surdo.
Segundo Careli (2010) é somente “a partir do final dos
anos 1980 se coloca a preocupação de inclusão do segmento de público espectador
infantil e juvenil surdos com a utilização de língua ou de linguagem/signos
específicos”. Isso quer dizer que apenas no final da década de 80 que se
começou a pensar na representatividade de personagens surdos que se
comunicassem por meio da língua de sinais. A autora também afirma que,
até o momento da publicação da sua pesquisa (2010), não havia “... representação,
de forma positiva, da surdez nas suas variações constitutivas – gênero, faixa
etária, classe,... – para jovens e crianças em processo de constituição de suas
identidades surdas”. Amaya é uma
personagem que representa a surdez e a feminilidade sem estereótipos e
valorizando, positivamente, as características desses grupos sociais.
E
não posso deixar de mencionar a sutileza dos criadores de incluírem uma
personagem que é o braço direito do general no campo de batalha e também o seu
interprete: Gren.
É
ele que da “voz” para que possamos compreendê-la, contudo no decorrer da
animação constatamos que Amaya não depende de seu interprete para dialogar com
os outros personagens, pois todos os personagens que já conviviam com ela sabem
falar por meio da língua de sinais.
Se vocês ficaram curiosos para
conhecer mais sobre Amaya e a história de O Príncipe Dragão, se liga no
trailer.
Ah! Todos
os episódios da primeira temporada estão disponíveis na Netflix e já foi confirmada
a segunda temporada para 2019.
Referências:
FILHA, Constantina Xavier; DO NASCIMENTO, Victória
Nobica Marques. Feminilidades e masculinidades na primeira temporada da
série animada Steven Universo. Revista Debates Insubmissos, Caruaru,
PE. Brasil, v.1, n.1, jan./abr. 2018.
CARELI, Sandra da Silva. As representações no cinema a partir do entrecruzamento das categorias
gênero e surdez. Seminário: IX Seminário Internacional Fazendo Gênero: diásporas, diversidades,
deslocamentos. 2010.























