Neste sábado (08/12) durante a CCXP foi exibido o
trailer oficial do remake da animação Saint
Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco. É claro que como a maioria dos fãs, eu fiquei
ao mesmo tempo animada, mas também incomodada com algumas mudanças nessa nova
versão da animação. Sou fã de Cavaleiros do Zodíaco desde quando eu tinha 6
anos. Todos os dias às 18 horas, eu ficava sentada em frente à televisão – sintonizada
na antiga Rede Manchete – aguardando o desenho começar. E quando ele começava
era só cantoria: “Faça elevar o cosmo no seu coração...”. Nostalgias a parte,
vamos ao que interessa: A mudança de sexo do personagem Shun é representatividade
feminina?
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| Shaun de Andrômeda |
Acompanhando o desdobramento da divulgação do
trailer nas redes sociais me deparei com uma postagem que dizia: “Não concordar
com a mudança do sexo do personagem de homem para mulher é machismo”. Será?
Como fã da animação e antes de tudo, mulher, fiquei muito incomodada com os
comentários sobre esse assunto. Muitos fãs comentaram que era machismo criticar
a mudança, em contra partida, outros defenderam que machismo foi transformar um
personagem heterossexual, mas que não segue os padrões do senso comum de masculinidade,
em uma mulher. Visto que outros personagens que seguem este padrão continuaram
sendo representados por personagens masculinos.
Só para relembrar! Shun é um dos cinco cavaleiros de
bronze principais que protegem a reencarnação da deusa Athena na terra,
conhecida como Saori Kido, à armadura de Shun é rosa, pois é representada pela
constelação de Andrômeda - a mesma do mito grego - e uma das características
principais de Shun é que ele, ao contrário dos outros cavaleiros, sempre expõe
a sua sensibilidade e só usa da força bruta quando é extremamente necessário.
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| Shun de Andrômeda |
Para esclarecer a mudança no personagem, o produtor
Eugene Son mencionou em seu Twitter que: “Hoje o mundo mudou. Homens e mulheres trabalham lado a lado.
Estamos já acostumados a isso. Certo ou errado, as pessoas poderiam interpretar
um time 100% masculino como uma mensagem de nossa parte“. Em sua
justificativa o produtor complementou: “Todo mundo concorda (que Andrômeda) é um ótimo personagem. Quanto
mais desenvolvíamos (a ideia da mudança), mais víamos potencial. Uma ótima
personagem com um ótimo visual. O conceito da Andrômeda não mudaria. Ela usa
suas correntes para se defender, e defender seus amigos. Isso ela aprendeu com
seu irmão protetor que a ensinou como lutar”. Se o personagem é tão rico, porque
mudá-lo?
As autoras Filha e Nascimento (2018) mencionam que historicamente a mídia tem como padrão
apresentar o personagem masculino “como forte e viril e o
feminino ligado à doçura e afetividade, mesmo se tratando, às vezes, de serem
super-heroínas nas narrativas contadas”. Doçura e afetividade são as principais
características de Shun. Aí eu me pergunto: Será que a mudança da personagem não
foi porque ele não segue a
representação do que a sociedade tem como referencial masculino? Porque não
manter a personagem com as suas características originais possibilitando a
visibilidade de outros modelos de masculinidade? Sendo que o produtor afirma em
seu discurso que é necessário um novo olhar, pois “hoje o mundo mudou”. Concordo
com a importância de personagens femininas em papéis de destaque legitimando a intenção
da representatividade feminina na animação, mas para isso não deveria ser
necessário excluir uma personagem que traz outra forma de apresentar as características
para personagens masculinas.
A obra Os Cavaleiros do Zodíaco é rica em personagens
femininas que tanto seguem padrões “Cumprindo com as normas de gênero impostas
social e culturalmente” como a Saori, que está sempre em perigo e precisa ser socorrida
por seus bravos cavaleiros, mas também há personagens como
Marin, Shina e June que “apresentam características culturalmente
atribuídas a personagens masculinas, como força, inteligência e coragem [...]
Sem cair, porém, em um binarismo, as personagens femininas não apresentam
características “masculinas” em detrimento das “femininas”...” (FILHA e NASCIMENTO, 2018, p. 232). Em minha opinião, representatividade seria um destaque
maior na história para essas personagens. Ainda não sabemos se isso vai
acontecer, mas seria ótimo para o publico feminino se enxergar representada
nessa animação, como afirma o produtor ser a sua intenção.
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| Marin, Shina e June |
Entendo que o remake de animações antigas sempre
gera muitas discussões como tem acontecido com as outras séries animadas como
She-Ra e Thundercats, pois o objetivo é alcançar o novo público infantil. Mas se
o discurso é também integrar nos enredos os novos valores é necessário, mais sensibilidade
nessa integração. Não tenho a pretensão de dizer que a minha opinião é verdade
universal, mas de compartilhar com vocês e buscar novos olhares sobre essa
mudança. Como fã da série torço que esse remake conquiste novos fãs, afinal de
contas Cavaleiros do Zodíaco é um animação que tem a amizade como um dos seus
valores principais. E espero que com o desenvolvimento da história possamos não
só criticar, mas também trazer elogios.
E porque mudaram o nome da Saori para Sienna?????
Isso fica para uma próxima matéria. J
Referência:
FILHA, Constantina Xavier; DO NASCIMENTO, Victória Nobica Marques. Feminilidades e masculinidades na primeira temporada da série animada Steven Universo. Revista Debates Insubmissos, Caruaru, PE. Brasil, v.1, n.1, jan./abr. 2018.



Matéria impecável! Parabéns!!!!
ResponderExcluirEsperamos que não,rs . ;)
ExcluirSerá que agora a única menina do grupo vai ser sempre salva pelo irmão?
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